18 Outubro,2018

Breves reflexões sobre o futuro governo

Todos os dias algum possível membro do futuro governo – do grupo do candidato que lidera a corrida presidencial – surge na mídia com alguma possível medida a ser adotada. Especulam-se medidas em nome do “futuro” governo e os setores econômicos apressam-se em análises e pleitos de reunião com a desconhecida e ainda não anunciada equipe.

Passado o primeiro momento impactante pós 1º turno, entidades de peso cancelaram eventuais contatos à espera da definição do pleito e, mais que isso, da definição objetiva e verdade de nomes que comporão a equipe de transição e o governo do futuro presidente.

O certo é que ainda há um vazio objetivo de propostas concretas. Já se falou em mudanças no modelo tributário. Quais mudanças? O foco de eventuais propostas é a tributação da pessoa jurídica ou da física? Como fazer esse concerto em um país onde convivem competências tributárias exclusivas da União Federal, de 27 governos subnacionais e de mais de 5.500 municípios? Nada é conhecido. Portanto, esperar é preciso. 

Já ouvimos falar em aumentar a competitividade nacional. Como? Por qual meio e medidas? Frases vazias geram ansiedades, justas, porém intempestivas. Há, pois, que se aguardar.

Falou-se também em abrir o mercado externo, em mais uma das muitas e históricas, “abertura dos portos”.  O mote seria ampliar a concorrência, provocar a indústria nacional fazendo-a mais produtiva e competitiva tendo como consequência final, como “benefício” para o povo, a redução de preços.  Seria isso mesmo? Abrir as fronteiras, zeras as tarifas de importação de dezenas de produtos e... destruir a indústria nacional, matando empregos e destruindo rendas. Não, não pode ser isso!

Em rodadas intermináveis com representantes de diferentes segmentos empresariais, observa-se um quadro de perplexidade que se soma à ansiedade. 

O problema brasileiro, crucial, está no setor público. De um lado um extraordinário déficit primário com despesas crescentes. De outro, a dívida pública ameaçando chegar a 80% do PIB. Nenhum governo de bom senso pode entender que vai atacar esses dois problemas – que inviabilizam o país - e ao mesmo tempo pôr à mesa sugestões destrutivas de empresas e empregos.   

Essas ideias que geram ansiedades saem da cabeça de acadêmicos que as emitem como se representantes do candidato que lidera a corrida empresarial fossem. 

Viveremos um período crítico nos seis primeiros meses de 2019. Um governo novo à direita de tudo que se fez nos últimos 30 anos. Um Congresso que é uma incógnita com menos representantes que entendem e falam a linguagem econômica e empresarial. Há que se analisar com calma e propor e agir com prudência na hora certa. 

Açodamentos nessa hora não são bons conselheiros. Estamos analisando o novo Senado e a nova Câmara dos Deputados em busca de novos interlocutores, independentemente de vinculações partidárias, capazes de compreender a problemática econômica e empresarial sem descurar-se do interesse nacional. 

Recomenda-se cautela e preparação para defender a empresa brasileira, o emprego brasileiro, a renda brasileira, o mercado interno (nosso maior patrimônio) no tempo certo. Há potenciais riscos e ameaças no campo tributário e da competição internacional. Temos de estar prontos para evitar males maiores, mas a precipitação (antes de se conhecer nomes e medidas do futuro governo) pode resultar em efeitos indesejados. 

Roberto Nogueira Ferreira

19208888